Vinte e um anos se passaram desde a minha formatura do 3º Colegial ( em 1989 ) e tanta coisa se perdeu.
Valores foram deteriorados, jogados no lixo, respeito inexiste. Sonhos? Só virtuais em alguma página da web.
Olhando de onde estou, só consigo enxergar um mundo de cotas, rodeadas de pessoas perdidas, sem direção, sem esperança, sem aspirações, sem sonhos, pobres de espírito.
Posso estar saudosista, mas acho que ando olhando através de um binóculo. O mundo mudou e tão para pior...é de entristecer.
Sou de um tempo que a gente ralava na escola para passar de ano. Todo mundo achava que eu era inteligente, mas eu digo, nunca fui ! Estudava como uma condenada, um mês antes já estava lá: cara nos livros. Fazia e refazia os exercícios quantas vezes fossem necessárias para aprender. E aí de mim se não passasse de ano!!!! Nunca quis descobrir o que aconteceria.
Aprendi muito com a postura dos professores, suas opiniões, seus comportamentos, suas direções, seus gostos.
Eu os admirava, alguns mais, outros menos.
Não aprendi a sonhar com eles, porque isso eu sabia fazer sozinha, mas aprendi a colori-los com cores fortes, cores claras, cores doces....
Aprendi a dar contorno e posicioná-los aos poucos. Muitos quiseram matá-los, com medo que eu me machucasse, tirar os contornos porque a vida é muito cruel, apagar as cores para que eu não tivesse ilusões. Para eles, o preto e branco eram as cores ideais, para mim não eram o suficiente para preencher minha alma, para colori-la.
Pensando em um fato que me foi narrado durante o 6º encontro de ex-ennianos, resolvi escrever sobre, pois percebi que há mais de 20 anos atrás a pontinha do que seria a educação já estava surgindo.
Dois professores do quadro da escola pública em que eu estudava conversavam e um deles disse à professora em determinado ponto, que ela servia “caviar” aos alunos ( se referindo ao conteúdo que ela oferecia), e que nós ( alunos ), estávamos acostumados à “arroz e feijão”. Ao que a professora respondeu que o “caviar” existia e poderia ser provado por todos, se iam gostar ou não era uma questão a parte.
Eu acredito que esta seja a diferença crucial hoje em dia na educação. Os profissionais se contentam com o arroz e o servem da forma como acham melhor. Eu não trabalho na educação. Só vejo seus reflexos, por aqui e por ali.
É lógico que a culpa não é só dos professores, existe uma tendência dos pais a não participarem, a dar voz ao aluno, e não ao responsável pela sua educação intelectual.
De incumbir a escola das responsabilidades que eram suas: respeito aos mais velhos, como se comportar em público e em casa, o que deve ou não fazer entre tantas outras coisas, a base da educação e pronto.
Mas os professores precisam ter fé, eu imagino, através dos noticiários, o quanto seja difícil, mas nada é impossível.
Ouço, ainda agora, a dona Olga, em uma visita que fez na nossa sala, onde disse: “..O estudo é a melhor forma de derrotar os maus políticos. Quando você sabe o que escreve, lê o que eles fazem, você é a arma mais poderosa para cobrá-los, e intimidá-los.”
E quem pode ajudar? Quem tem a faca e o queijo na mão: os professores, os mestres. Precisam ir para a sala de aula e cumprir o papel, eu tenho certeza que alguém vai sugar seu conhecimento e aí a semente está plantada. Difícil???? Com certeza. Se fosse fácil, não teria recompensa.
Minha geração, ao menos da escola, é o resultado da briga entre o arroz e feijão X caviar.
Ainda somos do tempo em que tudo era simples, mais gostoso e que as pessoas se preocupavam com as outras, se preocupavam, se respeitavam.
Brigas não eram bem vindas, eram separadas pelos amigos. Afinal éramos uma família.
Eu acho que fomos salvos, talvez por pais mais presentes, talvez por professores mais dedicados, mais humanos.
Fomos salvos também pela determinação de pessoas, que apesar de dar aulas em escola do Estado, para alunos que não dispunham de recursos financeiros, mas tinham potencial. Todos temos, mas às vezes não sabemos, precisamos de alguém que nos alerte, que acredite e nos faça ver e realizar.
Hoje em dia, tenho a impressão que se desiste antes de começar.
Alunos não tem porque lutar...Não se repete mais, aprender é quase facultativo.
Professores não tem voz ativa, passam programas, sem se importar com o conteúdo, erram a matéria e se confundem com verbos, acentos; mas para que se preocupar? Ninguém está vendo.....
Diretores não tomam nenhuma atitude para diferenciar, para incentivar os alunos a serem diferentes, mas para melhor sempre.
Hoje em dia eu sinto o ensino muito fraco, na UTI, principalmente o público.
Fico muito entristecida com essas coisas.
Claro que existem guerreiros e guerreiras é verdade, estes tem todo seu valor e precisam ter força para continuar.
Mas será preciso muito deles para salvar o que está quase perdido.
Eu tive vários guerreiros na escola, dois ao meu lado em casa, e um bem dentro de mim, não tinha como ser diferente.
Meu pai sempre dizia: que o conhecimento era a única coisa que ninguém pode nos tirar, não ocupa espaço e pode desvendar um mundo novo.....
Eu acredito e acreditei em cada palavra. Posso não ser uma grande empresária, uma pessoa famosa, ou de grande projeção, mas eu garanto que todo o conhecimento que eu tenho eu divido, e dessa forma , o multiplico, e vou distribuindo um tiquinho do caviar que recebi.
E assim vou aumentando a minha caixinha de conhecimentos.
E agradeço muito àqueles que insistiram em me servir “caviar” , eu também acredito que eles não se arrependeram .
E sugiro a todos que acreditem, tenham fé, todos temos um dom, só temos que descobrir qual é....
Beijos a todos.....
Querida Katia,
ResponderExcluirSe você acha que os professores "precisam ter fé" é porque faz muito tempo que não entra em uma sala de aula para ver o que estamos passando... Eu a convido a fazer o teste!
Acredite ou não, nós somos os seres com mais fé e resistência do mundo, caso contrário já não existiriam mais escolas!
Lecionar atualmente está muito próximo do inferno e só está lá quem ainda tem alguma esperança de que algo mude... Mas só vai mudar quando a sociedade resolver apoiar os professores!