Andei pensando muito por estes dias sobre o que queria falar, mas não me decidia. Então recebi a notícia de que a sobrinha de um amigo havia falecido ( 9 meses ), que a mãe de outro está muito doente e o pai de outra está internado.
Nâo sei se já comentei, mas meu pai tinha diabetes, tipo II. Para mim uma doença tão ou mais perigosa do que o câncer, porque as pessoas não dão a real importância a ela, como não apresenta sintomas, pode ir atuando no organismo por anos e pouco antes da pessoa morrer, ela vai embora, rindo do ocorrido.
Trabalho, indiretamente com assistência à saúde, e ficamos sabendo diariamente de pessoas idosas que permanecem internadas meses, às vezes anos.
Quando meu pai sofreu o 1º ataque cardíaco, percebi que ele realmente estava doente. Graças a Deus, porque a presença Dele é muito forte na minha vida, já estava trabalhando na Prefeitura, e através disso pude custear todo o tratamento dele até o final.
Minha preocupação era constante, diária, depois do fato ocorrido; antes eles não conversavam com a gente sobre o que estava acontecendo, uma vez meu pai me lveou para o trabalho sem enxergar um palmo na frente dele, seus olhos eram minha mãe. Sinceramente? Não acreditei quando ele falava, porque não parecia, mas meu herói estava começando a enfrentar os desafios importantes da vida dele. DEsafios importantes e derradeiros.
Perdeu a visão aos 50 e poucos anos, após 20 e poucos de diabético. Quando se aposentou, devido à doença que não possibilitava mais o uso da visão, sua ferramenta de trabalho, ele decidiu lutar.
Fazia a barba sozinho, tomava banho e se trocava sozinho, fazia pequenos reparos em casa com a juda da minha mãe, comia sozinho, andava pelo quintal, vivia atualizado, porque assistia ao jornal, ouvia rádio, não se rendeu, nunca. Nem quando tiveram que tirar a metade da sua perna, foi bem no ano do meu casamento. Ia me casar em 1999, dezembro, adiei para maio/2000 e depois para junho/2000, para que meu paizinho entrasse comigo e ele entrou todo garboso, todo lindo. Meu casamento acabou, mas valeu para ver meu pai todo feliz.
Para mim, sempre foi o homem mais lindo, atencioso, mas também era duro e seus olhos sempre falaram mais que sua boca. Amava demais meu pai.
Meu problema com a medicina vem no final: depois muito tratamento, muita internação, muita medicação, um transplante de rim, que não deu certo, meu pai precisou tirar a outra parte da perna, e ficou internado na UTI durante meses. Meses de sofrimento, de expectativa, em que ele se encontrava em coma induzida, e nós, familiares rezávamos para que ele voltasse para casa, ficasse conosco por mais algum tempo, só mais um pouco.
Depois de um dia em que fui visitá-lo e presenciei 5 paradas cardiácas em intervalos de 30 minutos aproximadamente, e que ele sobreviveu, graças ao socorro médico e à vontade dele de sobreviver, tive uma conversa com Deus, pedi para que ele aliviasse o sofrimento do meu paizinho, e se realmente fosse vontade Dele que o levasse, não conseguia mais vê-lo sofrendo tanto, e Deus fez a parte dele. Quinze dias depois meu deu adeus ao seu corpo terreno.
A tristeza foi enorme, em seu velório compareceram mais de 150 pessoas, em sua maioria, familiares, que conheciam-no e tinha grande amor por ele. Principalmente a família da minha mãe: tias, tios, sobrinhas e sobrinhos; que às vezes não podiam vir numa festa aqui em casa, mas sempre arrumavam um tempinho para vir vê-lo durante a semana ou no fim de semana.
Meu questionamento, após toda essa exposição é: até que ponto é realmente bom o avanço da medicina?
O sofrimento, a tristeza gerada por uma pessoa que às vezes só merece morrer em paz entre os seus. Não tiro o mérito dos exames, vacinas, entre outros, mas quando não há mais o que fazer...sei lá, é muito triste.
Vi meu pai todo cheio de fios e tubos, com uma máquina que filtrava o sangue dele todo o dia, e q só foi desligada, porque o sangue estava tão grosso que ela não conseguia mais executar seu trabalho.
Sei que as duas pontas são difíceis, mas sei lá...
Somos egoístas, queremos a pessoa perto, só mais um pouco, mas precisamos aprender, que o nosso sofrimento é grande, mas de quem precisa partir também.
Ainda não me decidi, e acho que nunca vou poder, porque também sou egoísta, e tenho muito medo da partida, da despedida, mas só o tempo dirá.
Beijos a todos e boa reflexão